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2021-06-02

A Serra da Estrela tem vestígios de duas glaciações: novas investigações reforçam a importância internacional do Estrela Geopark

As investigações, lideradas pelo Coordenador Científico do Estrela Geopark Mundial da UNESCO e Professor no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa, Gonçalo Vieira, publicadas esta semana na revista Geomorphology, trazem novas informações sobre as glaciações da serra da Estrela. Apesar dos trabalhos de investigação científica acerca das glaciações na Península Ibérica terem revelado avanços significativos na definição da cronologia destes eventos, estes têm sido focados essencialmente na última glaciação, cujo máximo global ocorreu há cerca de 20 mil anos. Os recentes estudos realizados na serra da Estrela, nomeadamente na área da Lagoa Seca, um dos principais geossítios do Estrela Geopark Mundial da UNESCO, localizado na cabeceira do vale de Beijames e próximo do vale do Zêzere, conferem um contributo significativo para a compreensão, não só da última, mas também de glaciações anteriores.

Esta investigação foi feita com recurso a datações que permitem datar o tempo de exposição à superfície das rochas, analisando isótopos cosmogénicos. É assim possível datar com precisão o momento em que as rochas erodidas ou transportadas pelos glaciares foram depositadas e expostas à atmosfera. Foram estudadas seis amostras, quatro de blocos morénicos (blocos transportados pelo gelo glaciário), e duas de superfícies de rocha polidas pelos glaciares. As idades obtidas são muito consistentes e confirmam as interpretações baseadas na geomorfologia.

De facto, os últimos resultados, permitem afirmar de forma clara que a serra da Estrela apresenta vestígios de duas glaciações distintas. A última teve na Estrela o máximo de extensão dos glaciares há cerca de 30 mil anos, altura em que o planalto apresentava um campo de gelo com uma espessura de 90m que fluía por ação da gravidade para os várias vales glaciários de se desenvolvem ao seu redor, originando um campo de gelo com uma área aproximada de 66 km2. Os recentes estudos permitiram datar depósitos da penúltima glaciação, que na Estrela teve o seu máximo há cerca de 140 mil anos, data em que os glaciares seriam um pouco mais extensos do que na glaciação subsequente. O desaparecimento dos glaciares da serra da Estrela, parece fixar-se próximo dos 14 mil anos, embora estes resultados sejam ainda pouco conclusivos.

Os resultados agora apresentados vêm ajudar a compreender a dinâmica glaciária do sudoeste europeu, conferindo um contributo importante para o conhecimento das glaciações, pois é a primeira vez que se datam depósitos glaciários da Penúltima glaciação na Cordilheira Central Ibérica.

Num trabalho continuado, estão em curso novas campanhas, orientadas pelo Professor Gonçalo Vieira, envolvendo o IGOT-Universidade de Lisboa e a Universidade de Zurique, bem como o Estrela Geopark Mundial da UNESCO. O objetivo é conhecer ainda melhor a glaciação da Serra da Estrela e a sua dinâmica, estando uma campanha de amostragem prevista para o próximo mês de junho.

O artigo, publicado numa política de acesso aberto, pode ser obtido em: https://doi.org/10.1016/j.geomorph.2021.107781

Um modelo 3D da glaciação da Serra da Estrela pode ser consultado em: https://skfb.ly/6STGn

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