Biodiversidade

  • Andares altitudinais e habitats

Os ecossistemas existentes no território estão categorizados em três andares altitudinais, que apresentam características ambientais e climáticas distintas, promovendo uma enorme diversidade biológica e de singularidade exclusiva no território de Portugal continental. Estes diferentes ecossistemas suportam 30 habitats e 30 subtipos, alguns exclusivos deste território, dos quais 6 são de conservação prioritária, estando consagrados na legislação comunitária Europeia da Rede Natura 2000, mais concretamente no Anexo I da Diretiva Habitats. Ao nível da biodiversidade, estão relatadas cerca de 3000 espécies de fauna, flora e fungos, com a ocorrência de mais de 150 espécies endémicas da Península Ibérica e 26 espécies endémicas de Portugal Continental, algumas de ocorrência única ou quase exclusiva neste território. Estão também relatadas mais de 100 espécies com estatuto de conservação desfavorável, tanto a nível nacional, constantes dos livros vermelhos de Portugal continental, como a nível internacional segundo a avaliação da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).

Distribuição dos Habitats constantes no Anexo I da Directiva Habitats (92/43/CEE) destacados nas áreas Rede Natura 2000 existentes no território da Reserva da Biosfera (fonte: Registo Nacional de Dados Geográficos - Direção-Geral do Território).

A diversidade existente, a nível ecológico, biológico e ambiental, é de extrema relevância para a provisão de serviços dos ecossistemas, tanto a nível local como regional. As diferentes funções ecológicas da vegetação têm particular importância nos serviços de regulação e manutenção, com especial destaque para as zonas húmidas, localizadas a maiores altitudes, tais como os cervunais, os zimbrais e as turfeiras.

O maciço montanhoso está diferenciado em três andares altitudinais:

Andares altitudinais da serra da Estrela

- O andar basal, até aos 900 m de altitude, é caracterizado por uma acentuada influência mediterrânica, estando sujeito a maior impacto das atividades humanas. Contudo, subsistem ainda alguns vestígios da vegetação natural, nomeadamente os azinhais e as comunidades de azereiro (Prunus lusitanica). Dos vários tipos de aproveitamento agrícola existentes, salientam- se a cultura da vinha e da oliveira e os pomares. O aproveitamento florestal baseia-se principalmente na plantação de pinheiro-bravo (Pinus pinaster), que atinge, em vários locais;

- O andar intermédio, entre os 900 e os 1600 m, corresponde ao domínio climático do carvalho-negral (Quercus pyrenaica). Os principais tipos de vegetação natural e seminatural que se encontram neste andar são os carvalhais, os castinçais e matos de vários tipos. Nas zonas onde o coberto arbóreo se apresenta degradado registam-se os matos, onde são encontrados os giestais de giesteira-brava (Cytisus multiflorus), nos quais também ocorre o rosmaninho (Lavandula stoechas subsp. sampaioana), os urgeirais de Erica australis subsp. aragonensis, que se associa ao zimbro (Juniperus communis var. saxatilis) e os piornais de piorno-dos-tintureiros (Genista florida subsp. polygaliphylla), associado à giesteira-das-serras (Cytisus striatus);

- O andar superior, situado acima dos 1600 m, corresponde, na atualidade, ao domínio dos zimbrais (Juniperus communis var. saxatilis), com predominância de espécies de gramíneas com enorme importância em termos de conservação, como o Cervum (Nardus stricta) que dá o nome de cervunais a estes habitats, que suportam ainda espécies de grande relevância como a espécie endémica narciso-trombeta (Narcissus pseudonarcissus subsp. nobilis), além de várias espécies de briófitos que constituem pequenas áreas de turfeiras de altitude, nas zonas de maior humidade. O mosaico de vegetação neste andar inclui também comunidades rupícolas e comunidades lacustres, sendo que nas zonas de maior altitude, particularmente no planalto central, são encontrados inúmeros lagos, charcos ou prados húmidos. Muitos dos prados são ainda hoje pastoreados de forma extensiva, correspondendo a uma tradição secular da região que ainda perdura. Este pastoreio possui um valor fundamental para a regulação do ecossistema, particularmente nos cervunais, promovendo a manutenção e o equilíbrio das populações arbustivas e outras espécies de vegetação rasteira, salvaguardando a conservação de habitats húmidos extremamente sensíveis como as turfeiras e de valores de biodiversidade de grande relevância ao nível de espécies de vegetação e de invertebrados.

É admitido que, no passado, o pinheiro-de-casquinha (Pinus sylvestris), o vidoeiro (Betula pubescens) e o teixo (Taxus baccata) tenham ocupado a parte superior da serra, após o recuo dos glaciares.

 

  • Flora e fauna

A serra da Estrela constitui um verdadeiro hotspot para a biodiversidade, observando-se aqui 3554 espécies de seres vivos, que incluem aproximadamente 10% de todas as espécies portuguesas.

Neste território estão registadas 1063 espécies de flora vascular, das quais 133 são endemismos ibéricos. Registam-se também 19 endemismos de Portugal continental, onde cinco espécies, duas subespécies e sete formas e variedades são estritamente endémicas da serra da Estrela, tais como a silene-da-estrela (Silene foetida subsp. foetida), a Armeria sampaioi e a Senecio pyrenaicus subsp. caespitosus. Também encontramos espécies de ocorrência quase exclusiva neste território, em particular a Centaurea paniculata subsp. rothmaleriana e a Festuca henriquesii, esta última com estatuto vulnerável segundo a IUCN. Do total de espécies de flora identificadas, 50 estão classificadas numa das categorias de ameaça da IUCN, estando 30 inseridas num dos anexos da Diretiva Habitats. Há ainda mais de 130 espécies de flora avascular, nomeadamente de briófitos, e mais de 440 espécies de fungos e líquenes.

Relativamente à macrofauna, estão registadas 302 espécies, englobando os anfíbios e répteis, peixes, mamíferos e aves, nos quais se contabilizam pelo menos 17 endemismos ibéricos

Relativamente à herpetofauna, são de destacar os anfíbios salamandra-lusitânica (Chioglossa lusitanica), rã-de-focinho-pontiagudo (Discoglossus galganoi), rã-ibérica (Rana iberica) e tritão- de-ventre-laranja (Lissotriton boscai), e os répteis cobra-de-pernas-pentadáctila (Chalcides bedriagai), lagarto-de-água (Lacerta schreiberi) e a lagartixa-de-Bocage (Podarcis bocagei), todos endémicos da Península Ibérica, existindo também uma subespécie de réptil endémica da serra da Estrela, a lagartixa-da-montanha (Iberolacerta monticola monticola).

Quanto à ictiofauna, estão relatadas espécies de grande importância como os endemismos ibéricos boga-comum (Chondrostoma polylepis), que possui estatuto vulnerável pela IUCN, e o barbo-ibérico (Lucioarbus bocagei), além do endemismo lusitânico ruivaco (Chondrostoma oligolepis). A única espécie migradora aqui encontrada é a enguia-europeia (Anguilla anguilla), uma espécie com estatuto de conservação vulnerável segundo a IUCN.

Encontram-se também 55 espécies de mamíferos, das quais 25 estão inseridas nos anexos de proteção da Diretiva Habitats, como por exemplo a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), um endemismo ibérico com estatuto de conservação vulnerável segundo a IUCN. Também o musaranho-de-dentes-vermelhos (Sorex granarius), endémico da Península Ibérica com estatuto de conservação desfavorável, é residente neste território. Recentemente, o lobo-ibérico (Canis lupus signatus), uma subespécie endémica da Península Ibérica com estatuto de conservação, tem registos do seu avistamento na zona nordeste do território, particularmente nos concelhos de Celorico da Beira e Guarda. No entanto, a maior parte das espécies de mamíferos encontradas na serra da Estrela são morcegos, com 25 espécies, todas abrangidas por estatuto de conservação internacional no âmbito da Diretiva Habitats. Destas, destacam-se o morcego-rato-grande (Myotis myotis), que criticamente em perigo segundo a IUCN, e o morcego-lanudo (Myotis emarginatus) e o morcego-de-ferradura-mediterrânico (Rhinolophus euryale) que possuem estatuto de vulnerável segundo a IUCN.

Está também confirmada a presença de 201 espécies de avifauna, das quais 75 são residentes. Destas destaca-se o bufo-real (Bubo bubo), uma espécie criticamente em perigo segundo a IUCN. Também a águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), espécie endémica da Península Ibérica, com estatuto vulnerável segundo a IUCN e criticamente em perigo segundo a o livro vermelho de Portugal continental é residente na serra da Estrela, sendo provável nidificante no território. A serra da Estrela é ainda um território de extrema importância para outras espécies não residentes de estatuto de conservação Vulnerável segundo a IUCN, como a cegonha-preta (Ciconia nigra), uma espécie estival (i.e., que ocorre na região durante a época de reprodução), o esmerilhão (Falco columbarius), uma espécie invernante, bem como o abutre-preto (Aegypius monachus), relatada como espécie de passagem frequente nas suas migrações. Por fim, são de realçar as espécies com provável nidificação que estão consagradas com estatuto Em Perigo a nível nacional, como o tartaranhão-caçador (Circus pygargus), o melro-das-rochas (Monticola saxatilis) e a gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax). No total estão descritas mais de 70 espécies integrantes na regulamentação Europeia Diretiva Aves.

Relativamente aos invertebrados, estão no total relatadas mais de 2100 espécies em todo o território da Reserva da Biosfera da Estrela, das quais pelo menos 29 estão contemplados com algum estatuto de ameaça, segundo a IUCN. Destacam-se igualmente a presença de espécies exclusivas da serra da Estrela, como o escarabeídeo Monotropus lusitanicus, o carabídeo Zabrus estrellanus e o tetigoniídeo Ctenodecticus lusitanicus.