Território

No interior centro de Portugal, entre a Beira Baixa e a Beira Alta, e inserida na Região Biogeográfica Mediterrânica, encontramos a Reserva da Biosfera da Estrela. Envolvendo o território da serra da Estrela, que inclui o ponto mais alto de Portugal continental, o Alto da Torre, com 1993 m de altitude, e com um total de 237 299 ha, o território da Reserva da Biosfera da Estrela corresponde à área de 6 Municípios: Celorico da Beira, Covilhã, Gouveia,Guarda, Manteigas e Seia.

Localização da Reserva da Biosfera da Estrela.

A serra da Estrela é uma montanha em forma de planalto alongado na direção SO-NE, delimitada por duas grandes escarpas que a separam das áreas aplanadas envolventes, nomeadamente a Plataforma do Mondego e a Cova da Beira. O seu território alberga planaltos bem preservados, vales lineares controlados pela tectónica e longos interflúvios, com uma densa rede de drenagem, existindo um contraste bem marcado entre as superfícies suaves dos planaltos e as encostas íngremes e os vales profundos. Os limites norte e nordeste da Estrela são as áreas de transição para os planaltos do centro-norte de Portugal e Meseta Ibérica, com uma estreita ligação ao relevo montanhoso principal.

Três importantes rios nascem nesta região: o Zêzere, afluente do Tejo e importante fonte de água potável para a cidade de Lisboa; o Mondego, o maior rio inteiramente português, que alimenta as ricas planícies aluviais existentes entre Coimbra e Figueira-da-Foz (o seu estuário) e o Alva, um afluente do Rio Mondego.

Além da diversidade morfológica e dos recursos hídricos existentes, também a proximidade ao oceano Atlântico (aproximadamente 100 km em linha reta) e a altitude influenciam as características desta montanha, conferindo-lhe uma grande diversidade climática. Por se encontrar mais próxima do Atlântico, a vertente NO da serra da Estrela apresenta normalmente temperaturas mais baixas e maior precipitação do que a vertente SO. À medida que vamos subindo em altitude as temperaturas vão diminuindo, enquanto que a precipitação aumenta. Estas características naturais, juntamente com a atividade humana, deram origem a mosaicos complexos de ecossistemas semi-naturais e ecossistemas agrícolas que, aliados a um riquíssimo património cultural, conferem características únicas a esta Reserva da
Biosfera.

A grande riqueza de ecossistemas, espécies, subespécies e variedades, particularmente a nível da flora, levou à classificação, no ano de 1993, do “Planalto Central da Serra da Estrela”, uma área de 10 610 hectares, como Reserva Biogenética do Conselho da Europa. Também a área do planalto central foi classificada, em 2005, como Sítio RAMSAR para a conservação de zonas húmidas de relevância internacional, denominada “Planalto Superior da Serra da Estrela e Cabeceira do Rio Zêzere”. Ainda a nível internacional, a Serra da Estrela integra também a Zona Especial de Conservação (ZEC) da Serra da Estrela (PTCON0014), da Rede Natura 2000. Em termos nacionais, em 1976 foi criado o Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), englobando uma área total que ronda os 90 mil hectares. Para além disto, a Reserva da Biosfera da Estrela abrange também as ZEC Carregal do Sal (PTCON0027) e Complexo do Açor (PTCON0051), mas apenas numa pequena extensão das suas áreas.

Áreas classificadas de âmbito internacional e nacional na Reserva da Biosfera da Estrela.

  • Zonamento

O Zonamento para a Reserva da Biosfera da Estrela teve por base as diferentes características físicas e biológicas inerentes ao território, a ocupação humana e atividades económicas, os limites do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE) e a pré-existência de estatutos legais de proteção:

- Zonas Núcleo - com uma área de 212,55 km 2 , correspondente a 9% de todo o território da Reserva da Biosfera, incluem as Zonas de Proteção Parcial tipo I e II do PNSE, localizadas no andar superior da serra da Estrela, que constituem áreas prioritárias para a conservação da natureza. As atividades humanas neste setor são reduzidas, destacando-se aqui a prática da pastorícia transumante, elemento identitário da montanha. Correspondem a espaços onde predominam sistemas e valores naturais de interesse excecional, incluindo formações geológicas e paisagens pouco humanizadas e que apresentam no seu conjunto uma sensibilidade ecológica elevada a moderada. É aqui que se encontram os principais valores naturais associados aos habitats de altitude como os cervunais e ambientes ripícolas, onde as espécies de maior valor, nomeadamente os endemismos, podem ser encontrados, e onde incidem as principais medidas e estratégias de conservação. Os principais objetivos para estas
áreas são:
i) A manutenção do estado de conservação favorável das espécies e dos habitats naturais e o funcionamento dos ecossistemas;
ii) A preservação das formações geológicas e dos valores biológicos e paisagísticos relevantes para a conservação da natureza e da biodiversidade;
iii) A valorização das atividades tradicionais da região da serra da Estrela.

- Zona Tampão - foi definida utilizando os limites do PNSE, que coincide também com um dos sítios da Rede Natura 2000 presentes no território, a ZEC Serra da Estrela (PTCON0014). Esta área de 679,65 km 2 , que representa 29% da área da Reserva da Biosfera, permite a manutenção dos valores patrimoniais, o seu usufruto equilibrado e a promoção de atividades tradicionais concertadas com as políticas de conservação. Esta área abrange variados tipos de habitats, desde áreas a maior altitude até à base da montanha, o que torna a sua diversidade ecológica bastante significativa. É uma área em que o estado de conservação das espécies e dos habitats é favorável, onde a manutenção dos valores patrimoniais, desde os elementos geológicos e geomorfológicos, às próprias paisagens e ocupação humana, pode ser feita de forma equilibrada com a sua utilização e onde as atividades tradicionais, em particular a pastorícia, podem ser promovidas de forma concertada com as políticas de conservação. Constitui assim um buffer significativo para as áreas a conservar, estimulando também o desenvolvimento sustentável das comunidades que aqui habitam e mantendo o carácter diferenciador dos seus recursos.

- Zona de Transição - utiliza os limites administrativos dos municípios que integram a área da Reserva da Biosfera, ocupando 1480,80 km 2 , correspondentes a 62% do território. Esta zona abrange também uma pequena extensão da área das ZEC Carregal do Sal (PTCON0027) e Complexo do Açor (PTCON0051). É uma área onde podemos observar a transição dos ambientes semi-naturais para as áreas agrícolas e para os aglomerados populacionais mais significativos, incorporando as principais comunidades do território, bem como as principais atividades económicas. As principais infraestruturas e equipamentos estão também associados a esta Zona, nomeadamente no que concerne a interpretação, educação e formação, permitindo de forma integrada e concertada o estabelecimento de estratégias de conservação e desenvolvimento territorial.

O processo de definição das diferentes áreas resultou de um trabalho de base com o PNSE e os municípios, que são os responsáveis pela gestão do território, envolvendo também as comunidades através de processos de consulta pública.

Zonamento da Reserva da Biosfera da Estrela

  • Ocupação do Solo

A área da Reserva da Biosfera da Estrela é caracterizada por uma larga extensão de área florestal, representando 38,6% do total deste território. A ocupação florestal é diversificada entre folhosas e resinosas, sendo dominada por largas áreas de florestas de folhosas nativas, particularmente florestas mistas de espécies de carvalho (Quercus spp.). No entanto, a maior ocupação corresponde às florestas de resinosas dominadas por pinheiro-bravo (Pinus pinaster), espécie amplamente usada na reflorestação da serra da Estrela no final do século XIX e início do séc. XX. As áreas florestais são amplamente distribuídas por todo o território, com especial desenvolvimento nas Zonas Tampão e de Transição, desde as áreas de menoraltitude até às maiores elevações, promovendo uma assinalável diversidade de ecossistemas e habitats.

Os matos, compostos maioritariamente por giestais e urzais, representam a segunda maior área de ocupação dos solos no território, correspondendo a 28,8% da área total, localizando-se maioritariamente nas áreas de maior altitude, nas Zonas Tampão e Núcleo. Nas áreas mais elevadas, encontram-se ainda importantes espaços descobertos ou com pouca vegetação, que, apesar de representarem apenas 3,6% da área total, são de enorme relevância em termos de caracterização do território do planalto central da serra da Estrela.

As áreas utilizadas para a agricultura correspondem a 22,4% do território, enquanto que as áreas urbanas ocupam apenas 3% da área total da futura Reserva da Biosfera, correspondendo às zonas de menor altitude.

Finalmente, destaca-se a agricultura intercalada com espaços naturais e seminaturais, nas quais as pastagens apresentam uma grande relevância para o território e para muitas das atividades económicas aqui produzidas, representando contudo apenas 3% da área total da Reserva da Biosfera da Estrela. Já as massas de água superficiais, que têm relevância paisagística e diversas funções no território, são a menor extensão de área existente, correspondendo a apenas 0,3% da área total.

Ocupação do Solo da Reserva da Biosfera da Estrela

No que diz respeito à produção agrícola, a mesma é bastante diversificada, variando entre culturas temporárias e permanentes, apresentando mosaicos agrícolas de diferentes tipologias, que incluem culturas temporárias de sequeiro e regadio, vinhas, pomares, olivais e pastagens melhoradas, bem como mosaicos culturais e parcelares complexos, onde os terrenos privados são utilizados para a prática da agricultura tradicional de subsistência. Relativamente às culturas de sequeiro, destaca-se a tradicional produção de centeio, intimamente ligada às características litológicas e climáticas do território. A produção vitivinícola ocorre nas duas vertentes da Estrela, contudo, dadas as diferenças climáticas e edáficas, na vertente noroeste desenvolvem-se as castas características da região do Dão, enquanto que na vertente sudeste desenvolvem-se as vinhas de castas características dos vinhos da Região Beira Interior. No que diz respeito aos pomares (citrinos, pereiras, pessegueiros e cerejeiras) e olivais, apesar deste tipo de culturas ocorrer nas duas vertentes, a vertente sudeste, mais quente e seca, é mais propícia ao desenvolvimento das culturas de pomares, com particular destaque para o pêssego e para a cereja da Cova da Beira.